A Porta
Está fechada. Está fechada e não parece querer abrir-se. É apenas mais uma entre muitas, mas parece destacar-se das outras.
Ao longe é negra, sombria. A solidão é uma névoa que a acolhe e a conforta.
Não são muitos os que se aproximam, menos são aqueles que lhe distinguem outras cores que não o negro. Não são muitas mais cores é certo, muitas estão por despertar, adormecidas, à espera que alguém as acorde do seu sono profundo. Mas essas cores estão lá para quem as procura, para quem quiser ver além dos rasgos profundos que a adornam, uns mais longos que outros.
É áspera ao toque, rude ao tato, cheira a mágoas e desilusões.
No entanto mantem-se ali: estática, hirta…eterna.
Não cabe aos que se aproximam destrancá-la; nem têm como fazê-lo: não existe chave, nem tão pouco fechadura. Pelo menos deste lado, do outro ninguém sabe.
Tem um pequeno portículo cuja abertura é entorpecida pela suspeita, nos raros momentos em que abre, pela pequena brecha é possível vislumbrar o que ela encerra: não o que se quer ver, mas o que se quer que seja visto.
Tem um puxador estendido, baço, à espera que alguém o alcance…
É uma porta que está fechada. Está fechada e ninguém parece querer abri-la.